Hokyo Zanmai

O samadhi do espelho precioso




Assim é o Dharma
que os Budas e os Patriarcas
transmitiram intimamente.

Agora que o tendes,
protegei-o bem.

☼Uma bandeja de prata cheia de neve branca,
uma garça coberta pela luz da lua,

parecem-se, mas não são iguais.
Juntando-as, sabemos que são.

Seu sentido não está nas palavras,
mas um instante decisivo o faz aparecer.


Se as seguirdes, sereis pegos em armadilhas,
se as negligenciardes, tombareis na dúvida.

Afastar-se ou tocar:
ambos estão errados.

Pois é como um grande fogo,
útil, mas perigoso.

Retratá-lo de modo literário,
é enchê-lo de sujeiras.

A meia-noite é a verdadeira luz,
a alvorada não é clara.

É a Lei que governa todas as coisas.
Seu uso remove todos os sofrimentos.

Ainda que não seja sem consciência,
não é sem linguagem.

Ainda que seja inconsciente,
provém da linguagem.


É como estar diante de um espelho precioso:
a forma e seu reflexo se observam.

Não sois o reflexo,
mas na verdade sois vós.

É como um bebê recém-nascido
provido de seus cinco sentidos.

Nem indo, nem vindo, não aparecendo, nem ficando.
“Gugu, dadá”, algo é dito?

Afinal, nada é dito,
pois as palavras ainda não estão corretas.

Ao duplicar o trigrama do fogo,
as linhas exteriores e interiores interagem.

Empilhadas, tornam-se três,
permutadas, tornam-se cinco.

Como o gosto da planta de cinco sabores
ou o vajra de cinco pontas.

Harmoniosamente, reunidos ao centro,
o som do tambor e o canto chegam juntos.

Penetrar a fonte e percorrer a trilha,
abraçar a paisagem e apreciar o caminho.

Respeitai isto e não negligencieis.
Natural e maravilhoso, não é ilusão nem iluminação.

Entre as causas e as condições, o tempo e as estações,
é sereno e ilumina.

É tão puro que penetra onde não há espaço,
é tão vasto que está além de qualquer dimensão.

Se vos afastardes a distância de um fio de cabelo,
não estareis mais em harmonia.

Agora há o súbito e o gradual,
nos quais os ensinamentos aparecem e desaparecem.


Quando se diferenciam,
cada um possui suas normas.

Porém sejam esses ensinamentos dominados ou não,
a realidade escoa constantemente.

No exterior, a calma, no interior, a agitação.
Como o cavalo no cabresto ou o rato acuado.

Os sábios de outrora deles teriam pena
e lhes ofereceriam o Dharma.

Conduzidos por suas visões errôneas,
tomariam o negro pelo branco.

Quando essas visões errôneas cessam,
a mente afirmativa harmoniza-se naturalmente.

Se quereis seguir as trilhas ancestrais,
peço-vos, observai os sábios do passado.


Aquele que está a ponto de realizar o caminho do Buda
contemplou uma árvore durante dez kalpas.

☼Como um tigre ferido de batalhas
ou como um cavalo manco.

Porque a alguns lhes falta algo,
procuram assentos preciosos ou vestes adornadas.

Porque outros têm uma ampla visão,
gatos e vacas brancas.

☼Hiei, graças à sua grande habilidade,
atingiu o alvo a cem passos.

Mas quando as flechas se encontram em pleno vôo,
como pode ser uma questão de habilidade?

O homem de madeira canta,
a mulher de pedra se levanta e dança.

Isto não é alcançado nem pelos sentidos nem pela consciência,
como poderia envolver deliberação?


Os ministros servem a seus senhores,
as crianças a seus pais.

Não obedecer opõe-se ao dever filial,
não servir, não é o papel de um verdadeiro ministro.

Escondei vossa prática, agi discretamente,
aparentai como um louco ou um idiota.


▲Seguir assim,
▲é ser chamado de mestre entre os mestres
.